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domingo, 17 de abril de 2011

Fernando Lyra analisa a política na Folha de PE


Fonte: Folha PE

CAROL BRITO e
RICARDO DANTAS BARRETO

Integrante dos “autênticos do MDB”, coordenador da campanha de Tancredo Neves, ministro da Justiça no início do Governo Sarney, candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola (89), sete mandatos de deputado federal e um de estadual. Com este currículo, Fernando Lyra se despediu das disputas políticas em 1998 alegando não ter mais espaço no Congresso para políticos com o seu estilo. Este ano, ele fechou mais um capítulo da sua extensa história na vida pública brasileira, ao deixar o comando da Fundação Joaquim Nabuco. Nesta entrevista, com os olhos de quem vê a conjuntura política de fora, mas com a experiência de anos de bagagem política, Lyra analisa que a oposição no Brasil definhou, critica as siglas de aluguel e a falta de lideranças políticas autênticas. Já na esfera local, prevê dificuldades no futuro do deputado federal João Paulo (PT) e do prefeito João da Costa (PT) e um racha entre os partidos do campo governista para o próximo pleito no Recife. Por outro lado, não poupou elogios ao governador Eduardo Campos (PSB) e à presidente Dilma Rousseff (PT).

O senhor fez parte de um momento em que a oposição foi crucial para a política no Brasil, no combate à ditadura. Qual a comparação que o senhor faz hoje entre a oposição atual e a que se fazia no seu tempo?
A oposição naquela oportunidade tinha um objetivo que era derrubar a ditadura. Hoje, não. A oposição teria de ter hoje um outro papel e não está tendo. A oposição tem a função de fiscalizar o Governo, mas com propostas. A gente tinha a proposta da democratização, mas, hoje, a gente vê líderes que não são lideres da oposição e não dizem nada. Qual o discurso do José Serra? Qual o discurso do senador Aécio Neves? O Serra não apoiou (governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin para prefeito, ele apoiou o Gilberto Kassab e o Kassab sai do DEM e cria uma invenção que eu nunca vi coisa pior. O PFL tinha história, o DEM não. Kassab está criando um partido (PSD) para negociar. Um partido que não é de esquerda, direita, não é de centro. Isso é uma vergonha nacional.

A oposição definhou?
Sim. A oposição vai ser recriada, mas eu não sei por quem. O grande partido de oposição do Brasil é o PT, porque o PT não é um partido é um conjunto de tendências que se engafinham e disputam como se fossem partidos diferentes. O PT só tem uma coisa diferenciada que é maior do que ele que: é o Lula. O partido vive à sombra dele.

O senhor é um dos fundadores do MDB, hoje o PMDB. Como avalia o partido hoje?
Não existe. O PMDB hoje são capitanias hereditárias. O que tem a ver Jarbas Vasconcelos, com Orestes Quércia e Michel Temer. Como o partido apoia o presidente da República, e num estado como Pernambuco é contra a candidatura oficial do partido? O PMDB não existe como partido, acabou, não tem mais. Quem é o lider do PMDB? Michel Temer? Ele é vice-presidente em função de negociações internas que ninguém sabe.

A fórmula que o senador Jarbas usa para fazer oposição ao Governo Federal é correta?
Primeiro, ele não pode ser oposição porque o partido dele não quer. Segundo, é a unica coisa que resta a ele fazer. O que ele vai fazer? Na oposição em Pernambuco, por enquanto, ele esta fora porque a derrota dele nas últimas eleições foi retumbante. Fora do Estado qual é o aliado que ele tem? Ele não tem nenhum aliado. Criar uma tendência no PMDB, na minha opinião, é uma idiotice completa.

O governo de Eduardo Campos está solto em Pernambuco? E qual a razão disso?
Não é solto. Eduardo Campos faz uma política que teve início com Arraes de trazer as reivindicações populares, que Eduardo modernizou e atualizou. É uma política que não tem em canto nenhum do País, de ouvir a população, sem ser em época de campanha. Eduardo agora percorreu o Estado todo, ouviu a população e com oposicionistas participando, porque a oposição não tem o que fazer. Qual o discurso da oposição? O que é que a oposição diz que quer? Ela quer chegar aonde?

Os partidos oposicionistas enxergam nas próximas eleições no Recife a saída para o marasmo em que se encontram. Com a gestão do prefeito João da Costa com baixos índices de popularidade, a oposição tem chances de vitória no próximo pleito?
Não vejo nenhuma possibilidade, não só aqui, mas em todo canto. O que eu vejo é que alguém que faz parte do Governo vai ganhar a eleição. E aquele que perder e faz parte do Governo, vai fazer oposição àquele que foi eleito.

Então, na sua visão, os partidos governistas lançarão múltiplas candidaturas?
Vão sim. Com um problema sério para o PT. Com as tendências do PT, você não sabe qual tendência que vai participar. Logo, não é o PT que vai para a disputa, mas uma das tendências.

O prefeito João da Costa é considerado candidato natural à reeleição por já ocupar o cargo. Do lado de fora, como o senhor avalia a gestão dele. Há esse desgaste que tanto se fala?
O problema é o seguinte. João da Costa foi eleito com o apoio de João Paulo e se desvinculou de João Paulo. Depois, ele continuou o governo de João Paulo, sem que ele quisesse admitir que fosse João Paulo. A população entende isso? Um exemplo é o Parque Dona Lindu que, bom ou mal, metade foi feita por João Paulo e a outra por João da Costa. O projeto é de João Paulo e João da Costa, mas cada um quis ser o dono.

O fato de João da Costa não ser um político de carreira acaba prejudicado?
Não é isso. Dilma também não é uma política de carreira e hoje é uma liderança nacional.

Então, essas críticas que João da Costa recebe, estão relacionadas a quê?
Na falta de credencial político para ele ser o substituto de João Paulo. Porque não foi uma candidatura natural, mas uma candidatura imposta.

O culpado é João Paulo?
Eu não tenho coragem de culpá-lo porque ele está em uma das situações mais difíceis que eu já vi alguém passar na vida pública. Você imagina, eleger um prefeito, o prefeito ficar contra você e você não ter opção? Nem candidato ele não pode ser pelo PT porque o partido não o apoia, também não pode sair do PT porque se descaracteriza. Então, a situação dele é ímpar. Gosto muito dele, mas a sua situação é muito difícil. Por outro lado, eu vi essa semana a propaganda do PMDB e só deu Raul Henry. É claro que ele é o candidato natural do partido, mas ele é candidato apoiado por quem?

Dilma está surpreendendo positivamente?
No caso dela especifico, ela não precisava de experiência partidária, ela precisava de experiência administrativa. E isso ela tem. Ela tem convicção e política ideológica. Ela não exerceu mandato, mas tem história e conteúdo político.

Estamos há quatro me­ses do Governo Dilma, o senhor prevê problemas para a presidente no Congresso Nacional?
Todo mundo pode ter. Esse Congresso, infelizmente, eu fico até chateado, mas o Congresso está complicado, difícil. Não vejo lideranças na Câmara com capacidade de liderar o processo político.

Mas há quem lidere o processo de barganha no Congresso?
Isso aí tem muita gente. E é por isso que tem que haver um processo de reforma política profunda.

O senhor fala de reforma política, mas é o próprio Congresso que está preparando esse processo.
Mas não é o Congresso que está preparando a reforma política, ele está tentando dar formalidade ao projeto. A reforma é uma reivindicação da sociedade. O povo está cheio disso aí. Você terminou agora as eleições e só se fala sobre a sucessão municipal. Ninguém fala dos problemas do Estado, só querem saber quem vai ser candidato. Não pode ser essa distância de dois anos, tem que ser no mínimo cinco ou quatro anos.

Só uma reforma política é o suficiente para resolver o problema da falta de discurso dos partidos?
Não, de forma alguma. Existe a carência de lideranças que tenham um pensamento e que sensibilizem a opinião pública com esse pensamento.

O senhor integra o grupo dos que lutaram pela democracia, está decepcionado com a democracia que está aí?
Não. A nossa luta era pela liberdade e nós conseguimos. Mas essa geração nossa tem um problema, faz quarenta e poucos anos do golpe e a gente quer que em cinco anos se renove tudo. Nós tivemos em 20 anos a primeira eleição democrática. É muito pouco tempo para a gente exigir uma mudança. Agora, a gente tem que querer uma mudança.

Muitos dos que participaram daquela luta, hoje se aliaram com aqueles que sempre lutaram contra. Houve perda de bandeira da própria esquerda?
Houve muita. Hoje você não sabe qual é o pensamento da esquerda. Você pega alguém que diz que é da esquerda e pergunta qual é o programa dele, e ele não tem. Tem que se formar um projeto político para ter governo e oposição. Não existe um bom governo, sem uma boa oposição. Não existe uma boa oposição, sem um bom governo.

Mas o próprio Governo não está atraindo nomes da oposição para sua própria base?
Ele não atrai. Eles vêm. O Governo não atrai, puxa. É que o pessoal está sem ideia, sem pensamento, sem projeto. Se eu tenho ideia, eu sou oposição, mas se eu não tenho ideia, eu estou com quem é governo. É um processo muito complexo. Por outro lado, a corrupção é muito grande e envolve a maioria direta ou indiretamente.

Do lado de fora da política, o senhor vai procurar dar alguma opinião nos processos políticos de Pernambuco e nacional, agora que está aposentado?
Não, aposentado eu estou desde 99 quando deixei a Câmara. Eu estava na Fundaj, que não é um cargo político, mas tinha uma importância. Agora, eu continuo o mesmo. É a unica coisa que eu gosto da vida, que eu sei fazer. Então, eu vou continuar fazendo política, desde que eu seja chamado para fazer. Eu não vou me oferecer, mas se solicitarem, eu não tenho a menor dúvida que vou participar. Mas, do lado de cá. Pode ter se acabado esquerda, direita, centro, mas eu sempre fui do lado de cá. Independente de sigla. Estou sem partido, não sou filiado a partido nenhum. Mas sou do lado de cá.

A família Lyra tem o vice-governador (João Lyra Neto) e a secretária da Juventude e Trabalho, Raquel Lyra, que é uma nova geração.
A nova geração é Raquel. Ela está preparada e eu tenho muita esperança que será uma excelente política, que vai formar esse quadro que está se formando, que quer pensar uma nova etapa da política brasileira.

Qual o futuro que o senhor vislumbra para Eduardo Campos?
Eduardo Campos é hoje, sem dúvida alguma, se não o melhor, um dos melhores políticos brasileiros. Anexado a uma coisa que o credencia mais que é o fato de ser um grande administrador, além de um grande político. Sua administração é feita em função do povo e o povo participando. Em qualquer cidade que Eduardo chega, o povo sente ele como um homem da terra, e eu não conheço nada parecido até hoje. Isso o credencia em termos nacionais. Nacionalmente, ele tem um peso muito forte. Ele tem ideologia, tem projetos. Você veja que ele terminou o governo em dezembro e geralmente os governos que são reeleitos representam a continuidade, mas ele já renovou e inovou tudo.

Esse excesso de partidos apoiando o Governo, é positivo ou negativo?
Não vale nada. A não ser para programa de televisão que soma tempo. Mas não vale nada porque não são partidos. Quantos militantes tem o PSC, o PCQ (sic)? Eu não sei o nome dos partidos. O que é PMN?

É Partido da Mobilização Nacional.
Partido da Mobilização Nacional?! Agora, você imagina um partido desse ser da mobilização nacional? Não tem. O que é PRB? PSC? É uma esculhambação, é uma falta de vergonha.

Mas é uma luta conquistada por vocês que defenderam o pluripartidarismo.
O pluripartidarismo é uma coisa. Isso aí não é pluripartidarismo. Isso é uma falta de pensamento, de partidarismo.

O senhor disse que a política hoje não tem esquerda, nem direita, mas o lado de lá e o lado de cá. Mas, o senador José Sarney era do lado de lá, mas veio para o lado de cá. Qual é o lado de Sarney?
É ser governo. Virou governo, ele vira. Eu não conheço Sarney na oposição. Toda a vida dele, ele foi ligado aos militares.

E foi eleito presidente com o apoio da esquerda.
Eleito com o apoio da esquerda para fazer média com o centro, naquela época, uma parte do PFL, que era dissidente do PDS. Então, Sarney é um caso atípico, continua no poder há 50 anos.

Mas por que aceitam isso?
Não é problema de aceitação. É problema de ele se aproveitar bem das divergências internas e sempre sair como uma solução.

Para o senhor, qual foi a maior decepção no meio político?
Eu tenho uma que é muito forte e não gosto de lembrar. Mas para mim foi Ulysses Guimarães. Foi um caso pessoal, mas que mostra a decepção que eu tive. Eu era candidato à presidência da Câmara, em 1986, porque doutor Ulysses, que era presidente da Casa, ia ser presidente da Constituinte. Como na reeleição para presidente da Câmara era proibido, eu fui candidato porque ele não era. E ele violou a regra e foi candidato a presidente. Aparentemente é um fato menor, mas eu senti na pele a falta de... (pausa). Ele não foi correto. Ao longo do caminho, eu tive muitas decepções, mas eu tenho uma grande virtude que é não guardar mágoas. Para mim, sofre quem faz.

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